terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Histórias da vida

 Clara ficou para trás - Parte I



Mais uma noite acordada, não consegui pregar o olho, desde que o Denis foi embora tem sido assim, difícil de dormir, ora pela amargura ora pelo choro do bebê, e como ele chora, o Lucas chora sem parar. Achei que a gravidez nos ajudaria a ficarmos juntos, mas a euforia durou menos que a gestação:

“Preciso de espaço Clara, você me sufoca!”

Essas palavras não saem da minha cabeça, chega a doer, é um tormento. Não aguentava ficar sozinha em casa, ainda bem que a mamãe me aceitou, pelo menos por uns dias. Tinha até me esquecido de como tudo aqui é luxuoso, os moveis de madeira, os tapetes persas, as plantas bem cuidadas, a cama macia, o perfume e a paz. Minha mãe parece sempre exalar a paz, mesmo quando fui embora sem dar muita satisfação, ela não pareceu desesperada, estava triste, mas ainda sim em paz, irônico não é?

- Dona Clarinha... Dona Clarinha!

- Sônia, não me chame de Dona, você sabe que eu não gosto. Onde você esteve hoje cedo? Te chamei sem parar...

- Ah... me desculpe!

Sônia é a empregada da casa, é meio desajeitada, mas é uma boa pessoa:

- Sabe o que é... A Dn. Helen me libera todos os domingos pela manhã para eu ir à igreja, mesmo que não seja minha folga no dia.

- Então você também vai à igreja agora?- Senti meu rosto esquentar neste momento.

- Sabe Clarinha, sua mãe fez muitas coisas boas pra mim desde que eu vim trabalhar aqui, mas a melhor de todas foi ter me apresentado a Deus.

 Ela falava isso sorrindo enquanto acalentava o meu bebê para mim, eu olhei para ela com ar de riso.

- E você entende o que o pastor fala Sônia? Mal entende o que te falamos. - Mesmo no fundo do poço eu ainda conseguia ser soberba.

- Ah entendo... Entendo sim!- Ela respondeu com seu sotaque interiorano- Hoje o pastor falou uma coisa muito importante.

- Ah é... O que foi?

- Ele falou sobre o arrebatamento. As pessoas que entregaram suas vidas a Jesus serão levadas para o céu.

Meu coração gelou dentro de mim, odiava este assunto, mas como Lucas estava quase dormindo a deixei continuar:

- Será como um piscar de olhos, alguns serão tomados, e outros ficarão e sofrerão na grande tribulação. Mas eu já aceitei Jesus, e ele me mudou por dentro...

Passei as mãos nos cabelos e suspirei, para mim já chega:

- Tá bom... tá bom... Me dá ele aqui.

- Oh... Dormiu, que lindo. Sua mãe saiu depois do culto, falou que se você quisesse ir à igreja também era só chamar o motorista. A primeira reunião já foi, mas se quiser tem outra daqui a pouquinho...

- Não... Não... Vou ficar aqui com meu filho. Ele é tudo que eu tenho agora.

- Mas...

- Mas o que Sônia? Vai lá preparar um café para mim. Vai...

Ela não disse nada, colocou o bebê ao meu lado na cama, e foi andando em direção à cozinha um pouco desapontada.

“Era só o que me faltava, até a empregada quer me evangelizar agora, quando quiser eu vou voltar, hoje não!”

Fiquei pensando nisso e em tantas outras coisas, eu já havia sido de Deus um dia, mas desisti de tudo para ficar com Denis. Então meu corpo começou a doer, me lembrando de que eu precisava dormir, me reclinei sobre os travesseiros enquanto acarinhava Lucas, der repente cochilei.
Foi muito rápido como um abrir e fechar de olhos, olhei para o lado e Lucas não estava lá, toda a sua roupinha estava ali, inclusive as fraldas, eu sacudi de um lado para o outro, revirei os lençóis, em baixo da cama e nada. Meu coração acelerou e minha respiração ficou ofegante, senti uma pressão na cabeça enlouquecedora.

“Não é possível que ele tenha sumido.”

- Sônia! Sônia! Sooooôniaaa!!!!!!!!!!!!!!!! Socorro!

Eu gritava sem parar, mas não havia resposta...

...


E agora, o que você acha que aconteceu? Onde o bebê de Clara foi parar? Você está pronta para esse dia?

Retirado do Blog de Dona Aline Munhoz

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