Clara ficou para trás - Parte I
Mais uma noite acordada, não consegui pregar o olho, desde que o Denis foi embora tem sido assim, difícil de dormir, ora pela amargura ora pelo choro do bebê, e como ele chora, o Lucas chora sem parar. Achei que a gravidez nos ajudaria a ficarmos juntos, mas a euforia durou menos que a gestação:
“Preciso de espaço Clara, você me sufoca!”
Essas palavras não saem da minha cabeça, chega a doer, é um tormento. Não aguentava ficar sozinha em casa, ainda bem que a mamãe me aceitou, pelo menos por uns dias. Tinha até me esquecido de como tudo aqui é luxuoso, os moveis de madeira, os tapetes persas, as plantas bem cuidadas, a cama macia, o perfume e a paz. Minha mãe parece sempre exalar a paz, mesmo quando fui embora sem dar muita satisfação, ela não pareceu desesperada, estava triste, mas ainda sim em paz, irônico não é?
- Dona Clarinha... Dona Clarinha!
- Sônia, não me chame de Dona, você sabe que eu não gosto. Onde você esteve hoje cedo? Te chamei sem parar...
- Ah... me desculpe!
Sônia é a empregada da casa, é meio desajeitada, mas é uma boa pessoa:
- Sabe o que é... A Dn. Helen me libera todos os domingos pela manhã para eu ir à igreja, mesmo que não seja minha folga no dia.
- Então você também vai à igreja agora?- Senti meu rosto esquentar neste momento.
- Sabe Clarinha, sua mãe fez muitas coisas boas pra mim desde que eu vim trabalhar aqui, mas a melhor de todas foi ter me apresentado a Deus.
Ela falava isso sorrindo enquanto acalentava o meu bebê para mim, eu olhei para ela com ar de riso.
- E você entende o que o pastor fala Sônia? Mal entende o que te falamos. - Mesmo no fundo do poço eu ainda conseguia ser soberba.
- Ah entendo... Entendo sim!- Ela respondeu com seu sotaque interiorano- Hoje o pastor falou uma coisa muito importante.
- Ah é... O que foi?
- Ele falou sobre o arrebatamento. As pessoas que entregaram suas vidas a Jesus serão levadas para o céu.
Meu coração gelou dentro de mim, odiava este assunto, mas como Lucas estava quase dormindo a deixei continuar:
- Será como um piscar de olhos, alguns serão tomados, e outros ficarão e sofrerão na grande tribulação. Mas eu já aceitei Jesus, e ele me mudou por dentro...
Passei as mãos nos cabelos e suspirei, para mim já chega:
- Tá bom... tá bom... Me dá ele aqui.
- Oh... Dormiu, que lindo. Sua mãe saiu depois do culto, falou que se você quisesse ir à igreja também era só chamar o motorista. A primeira reunião já foi, mas se quiser tem outra daqui a pouquinho...
- Não... Não... Vou ficar aqui com meu filho. Ele é tudo que eu tenho agora.
- Mas...
- Mas o que Sônia? Vai lá preparar um café para mim. Vai...
Ela não disse nada, colocou o bebê ao meu lado na cama, e foi andando em direção à cozinha um pouco desapontada.
“Era só o que me faltava, até a empregada quer me evangelizar agora, quando quiser eu vou voltar, hoje não!”
Fiquei pensando nisso e em tantas outras coisas, eu já havia sido de Deus um dia, mas desisti de tudo para ficar com Denis. Então meu corpo começou a doer, me lembrando de que eu precisava dormir, me reclinei sobre os travesseiros enquanto acarinhava Lucas, der repente cochilei.
Foi muito rápido como um abrir e fechar de olhos, olhei para o lado e Lucas não estava lá, toda a sua roupinha estava ali, inclusive as fraldas, eu sacudi de um lado para o outro, revirei os lençóis, em baixo da cama e nada. Meu coração acelerou e minha respiração ficou ofegante, senti uma pressão na cabeça enlouquecedora.
“Não é possível que ele tenha sumido.”
- Sônia! Sônia! Sooooôniaaa!!!!!!!!!!!!!!!! Socorro!
Eu gritava sem parar, mas não havia resposta...
...
E agora, o que você acha que aconteceu? Onde o bebê de Clara foi parar? Você está pronta para esse dia?
Retirado do Blog de Dona Aline Munhoz
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